Dispositivos intrauterinos e o mito da insegurança

Publicado em 12/02/2020

Estudo realizado pelo Centro do INCT Hormona da Unicamp aponta que maior parte dos casos de expulsão (de 3% a 4% das inserções) ocorre até o sexto mês de uso, bastando uma revisão neste período para trazer tranquilidade às pacientes e aos profissionais de saúde.

A percepção de que parte dos médicos e dos profissionais de saúde acredita que deve manter consultas periódicas para revisar a localização do dispositivo intrauterino (DIU) em suas pacientes motivou um grupo de pesquisadores do INCT Hormona a analisar se revisões frequentes podem prevenir a expulsão do contraceptivo. Os resultados deste estudo compõem o artigo intitulado “Follow-up visits to check strings after intrauterine contraceptive placement cannot predict or prevent future expulsion“, o qual foi publicado no periódico The European Journal of Contraception & Reproductive Health Care (https://doi.org/10.1080/13625187.2019.1586872), e podem integrar novas recomendações para a saúde pública do Brasil.

“Constituiu-se o mito de que o DIU precisa ser frequentemente observado para que não ocorra expulsão pela paciente, o que comprometeria a efetividade e a segurança do método. Para fazer esse tipo de controle, criou-se uma cultura de realizar consultas de manutenção. A pergunta que nós fizemos é: será que essas consultas são mesmo necessárias? Mais que isso: será que o controle feito com as revisões poderia mesmo evitar uma expulsão?”, explica o coordenador do Centro Hormona da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Prof. Dr. Luís Bahamondes.

Segundo ele, em sintonia com a dúvida reproduzida entre os próprios profissionais de saúde, propagou-se entre as pacientes o receio de estar usando algo perigoso, que poderia parar de funcionar a qualquer momento, deixando a mulher desprotegida em seus cuidados em saúde reprodutiva.

“O método é seguro. Apenas 3% a 4% das mulheres sofrem expulsão do DIU. Nossos resultados indicam que é necessária apenas uma consulta de acompanhamento nos primeiros quatro a seis meses de colocação. O estudo também indica que visitas adicionais não parecem reduzir expulsões, nem ajudam a prever se isso poderá ocorrer futuramente”, informa o pesquisador.

De um universo de mais de 40.000 mulheres  que receberam uma inserção de DIU em instituições públicas do país entre janeiro de 1980 e dezembro de 2017, o estudo revisou os registros médicos de 1.607 mulheres  que sofreram expulsão do dispositivo. As pacientes fizeram em média 10 visitas ao médico para acompanhamento ao longo do período de utilização do método contraceptivo, de cinco a dez anos. Contudo, a maioria das expulsões ocorreu nos primeiros seis meses após a colocação do DIU, especialmente nos primeiros três meses após a colocação.

O resultado das análises, destaca Bahamondes, levando em consideração a idade das pacientes e seus relatos sobre dores e episódios de sangramento, aponta que o número de consultas para acompanhamento não parece ter influência na probabilidade de expulsão do DIU.

Bahamondes defende que o uso deste método precisa ser disseminado e argumenta que os resultados do estudo publicado precisam ser incorporados às práticas assistenciais de cuidados da saúde feminina no país. O pesquisador também sustenta que profissionais precisam ser permanentemente treinados e capacitados para que a inserção do DIU seja sempre bem qualificada.

Texto e edição: Luiz Sérgio Dibe