Análise das células cumulus em pacientes inférteis com endometriose mínima ou leve

Postado em 23/06/2022

Um estudo comandado pelo grupo do INCT Hormona da Universidade de São Paulo (USP) – Campus Ribeirão Preto –  investigou os mecanismos etiopatogênicos da infertilidade, relacionada à endometriose nos estágios iniciais (mínima e leve). O artigo “Transcriptomic analysis of cumulus cells shows altered pathways in patients with minimal and mild endometriosis” traz dados importantes e inéditos sobre essa relação e pode ser lido na íntegra no link:  https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35388025/

Segundo a professora e pesquisadora Dra. Paula Navarro, o levantamento é fundamental para que possam ser descobertas novas formas de tratamento da infertilidade. “Na endometriose mínima e leve, graus 1 e 2, é mais complicado entender porque as pacientes podem ser inférteis, afinal elas não apresentam alteração da anatomia da pelve; não têm obstrução da trompa ou muitas aderências; e, por isso, entender o porquê elas podem ser inférteis nos auxilia a testar ou investigar novas formas de tratamento”, comenta a especialista.

“Ampliar as possibilidades de tratamento é importante, tanto pela prevalência da doença, quanto pelo fato de que, até o momento, não existe nenhum tratamento medicamentoso para a infertilidade na endometriose. Os únicos disponíveis são a reprodução assistida ou cirurgia, com acesso limitado à população em geral”, explica.

A Dra. Paula comenta que, em estudos anteriores, o grupo descobriu que pacientes com endometriose em estágios iniciais podem ter maior risco de ter comprometimento da qualidade de seus óvulos – e essa piora pode estar relacionada com a infertilidade. “Como as análises invasivas de óvulos não são rotineiramente viáveis, optamos pela avaliação indireta, através das células do cumulus, que são as que envolvem o óvulo durante seu desenvolvimento e sua maturação e, por isso, são importantes para a aquisição da qualidade do óvulo e têm importância na proteção do óvulos”, comenta.

No estudo acima mencionado, a equipe realizou a análise do transcriptoma ou do perfil de transcritos nas células do cumulus de pacientes inférteis com endometriose em estágios iniciais, em comparação com pacientes inférteis sem endometriose, para tentar entender melhor os mecanismos relacionados à alteração dos óvulos.

O artigo mostra que o perfil de transcritos nas células do cumulus de pacientes inférteis com endometriose mínima e leve apresenta 26 genes diferencialmente expressos em relação aos controles. “A análise de enriquecimento evidenciou alguns processos moleculares alterados: interações citocinas-receptores de citocinas, sinalização de quimiocinas, sinalização de TNF, sinalização de receptores semelhantes a NOD, sinalização de NF-kappa B e resposta inflamatória”, explica a pesquisadora.

Após os resultados, a especialista acredita que novos estudos precisam ser feitos. “Algumas pesquisas já são realizadas pelo nosso grupo, ainda em animais”, explica. “Estamos tentando caracterizar melhor um modelo de infertilidade e endometriose em murinos e um dos próximos passos é o teste de intervenções terapêuticas”, afirma. “Se os estudos forem promissores, iniciaremos os ensaios clínicos controlados em humanos”, finaliza.