Prematuros e uso de GH em crianças que evoluem com baixa estatura

Publicado em 02/10/2020

Dados do Ministério da Saúde apontam que no Brasil, aproximadamente 10% dos bebês nascem prematuros, ou seja, antes da mãe completar 37 semanas de gestação. O avanço da medicina e os tratamentos hormonais têm possibilitado que a grande maioria consiga se desenvolver e crescer dentro do potencial genético.

Estudos revelam que o tratamento com hormônio do crescimento em crianças nascidas prematuras, que persistem com baixa estatura, é considerado seguro e eficaz. Os bons resultados foram observados em estudos tanto durante a infância e adolescência como também na altura adulta, mas antes de iniciar o tratamento deve-se identificar a razão da não recuperação do crescimento.

Uso do GH em crianças nascidas pequenas para a idade gestacional

O estudo “Postnatal management of growth failure in children born small for gestational age”, J Pediatr, 2019 de autoria da coordenadora e pesquisadora do INTC, Dra. Margaret Boguszewski, teve como objetivo discutir a etiologia e as consequências do tamanho ao nascimento. Além disso, foi avaliada a eficácia e segurança da terapia com hormônio de crescimento biossintético em crianças nascidas pequenas para a idade gestacional.

Segundo o artigo, o tratamento com GH em crianças nascidas pequenas para a idade gestacional, que persistem com baixa estatura, é considerado seguro e eficaz para melhorar o quadro geral durante a infância e adolescência e também na vida adulta. No entanto, devem ser feitos esforços para identificar a razão da não recuperação do crescimento, antes de iniciar do tratamento.

Dra. Margaret explica que, em algumas crianças se soma o nascimento prematuro e o nascimento pequeno para a idade gestacional. “A combinação das duas situações aumenta o risco de persistir com baixa estatura nos anos seguintes ao nascimento”, alerta a pesquisadora.

O levantamento mostra ainda que o tratamento com o hormônio pode ser indicado, preferencialmente, a partir dos 2 ou 4 anos de idade, em crianças pequenas para a idade gestacional que permanecem baixas, sem recuperação do crescimento. “A utilização do hormônio visa aumentar a velocidade de crescimento e atingir uma altura normal, durante a infância, e uma altura adulta dentro do potencial genético”, explica a pesquisadora.

Ela esclarece que a resposta ao tratamento é variável, com melhor resposta de crescimento durante o período pré-puberal.

Crescimento de prematuras e desenvolvimento intrauterino

A Tese de Doutorado da Dra. Adriane Demartini, orientada pela Dra. Margaret Boguszewski, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente (Setor de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Paraná), chegou à conclusão que o crescimento intrauterino e o nascimento prematuro podem trazer consequências durante os primeiros anos de vida. Entre eles, a pesquisa destaca o comprometimento do crescimento em altura, puberdade e ganho de peso em excesso.

De acordo com o estudo, crianças nascidas prematuras frequentemente apresentam uma falência importante do crescimento no período pós-natal, seguida de recuperação após a estabilização clínica. Entretanto, algumas delas não recuperam o crescimento e podem persistir menores que seus pares nascidos a termo.

O levantamento mostra, também, que em algumas jovens nascidas prematuras, a puberdade pode ocorrer um pouco mais cedo que o habitual, sendo este mais um fator que compromete a altura na vida adulta. Desta forma, torna-se necessário o acompanhamento clínico regular do prematuro, durante toda a fase de crescimento e desenvolvimento.

A tese foi dividida em duas etapas para descrever o crescimento e as variações do peso e altura até o sétimo ano de vida de prematuros: uma retrospectiva longitudinal e outra de coorte, com reconvocação das crianças. .

Segundo Dra. Margaret, aproximadamente um terço das crianças prematuras, nascidas com tamanho adequado para a idade gestacional, evoluiu com retardo de crescimento extrauterino. Elas apresentaram uma piora do peso e/ou comprimento quando atingiram as 40 semanas pós-concepcionais.

O estudo teve as seguintes conclusões:

  • A maioria dos prematuros apresenta recuperação do peso e do comprimento até os 2 anos de idade pós-concepção;
  • Idade gestacional menor que 32 semanas, baixa estatura materna, nascimento pequeno para a idade gestacional e retardo de crescimento extrauterino foram fatores de risco para baixa estatura;
  • O rápido ganho ponderal nos primeiros dois anos de vida, o escore Z do IMC aos 2 anos de idade pós-concepção e o retardo de crescimento extrauterino foram fatores de risco para sobrepeso/obesidade;
  • O aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida tem papel protetor indireto do excesso de peso na idade escolar.